Ana Lu Pt. 1
Essa não é apenas mais uma história de amor. É a minha história.
Sair da cama passou a ser uma das tarefas mais difíceis para mim. Levantar sabendo que eu teria a obrigação de parecer feliz para todas as pessoas que cruzassem o meu caminho, apenas por orgulho de não transparecer fraqueza. Era o primeiro passo para me tornar tudo o que eu sempre evitei: um robô, ligado no automático.
Com o passar dos dias minha rotina se tornou maçante e os dias torturantes. Acordar com mil pensamentos rondando minha cabeça, arrastar-me até o banheiro e olhar-me por um tempo incontável no espelho. Às vezes tinha olheiras, outras não. Claro, elas sumiam quando eu tomava alguma droga legalizada para dormir. Às vezes passava maquiagem, outras sequer arrumava os cabelos. Minhas roupas pareciam sempre as mesmas.
Sair de casa sem me preocupar se lembrei de trancar a porta, pegar o elevador e torcer para que ele me levasse para qualquer lugar melhor. Pegar o metrô cheio por medo de esperar o próximo, pois ficar parada e sozinha me fazia pensar demais. Trabalhar com desgosto, sentindo-me presa e claustrofóbica. Voltar para casa aliviada, mas ao mesmo tempo apavorada por ficar sozinha de novo. Nunca me preocupara em estar sozinha antes.
Todas as coisas pesadas do mundo estavam guardadas apenas no fundo da minha alma, pois por fora eu era a pessoa mais feliz do mundo. Acima de tudo, como meus amigos sempre me conheceram, eu parecia livre de tudo.
Passei a preencher o vazio dentro de mim com festas. Antes me divertia para ter prazer, agora para aliviar um pouco a dor. Beijei meninas e meninos, bebi tudo o que me ofereceram, fumei cigarro, consumi drogas, fiquei louca, pulei e dancei, gritei, conheci pessoas novas, acordei em camas desconhecidas e corri de volta para casa, onde a alegria me abandonava de novo e eu voltava a ser não quem eu era, mas quem eu estava sendo.
Algumas vezes eu sumi do mapa. Meus amigos ficaram loucos atrás de mim, pois a vida noturna sempre correu em meu sangue. Onde está a Luiza? A Luiza não veio hoje, cadê ela? Queriam a minha presença quando tudo o que eu queria era a presença de uma só pessoa. Tornamo-nos quase que um casal queridinho pelos amigos em comum, éramos felizes, éramos a felicidade dos outros. Gostavam de nos ver juntas, nosso apelido era Ana Lu. Foi tudo muito rápido, como um meteoro arrasador. Inesperado, surpreendente e forte o suficiente para mudar a minha vida. Para sempre? Por um instante? Até eu conhecer outra pessoa? Não sei, de verdade. Pergunto-me todas as manhãs ao abrir os olhos, especialmente quando finjo que tudo não passa de uma brincadeira.
Sempre me senti bem sozinha, até conhecer a Mariana. Fui muito feliz ao seu lado, até perdê-la. Sua ausência simplesmente me destroçou.