Eu estava em casa quando tudo começou. Tinha recém chegado do trabalho, exausto depois de mais um dia de muito estresse. Nunca troquei uma boa diversão para ficar em casa, mas naquela noite específica tudo o que eu queria era sentar a bunda no sofá e não fazer nada. Antes que eu pudesse começar o descanso, o celular tocou. Deodoro, um amigo de longa data. Não precisei atender para lembrar do que era: ele estava dando uma festa. Minha cabeça estava tão cansada que acabei esquecendo completamente.

Ele não precisou insistir muito para me convencer, essa é a verdade. A frase que mais fixou em mim foi “aqui tem amigos, bebida, música boa e mulher”. Digo a vocês com toda a certeza do mundo: as festas do Deodoro pareciam um filme pornô dos anos 80. Gente de todos os estilos, corpos perfeitos e imperfeitos, pessoas lindas e feias, e todas com um único propósito: divertir-se sem culpa, remorso, tabus ou julgamento. Deodoro era um homem de cabeça livre e só permitia convidados com o mesmo espírito de liberdade que ele. Era homem beijando homem, mulher beijando mulher, um boquete ali para todo mundo ver, uma trepada lá com mais plateia, ou até uma trepada sem plateia, já que uma conversa sobre promoção de melancia no mercado era mais novidade do que duas pessoas fodendo em púlico. Já viram o preço da melancia? Um absurdo.

Me arrumei e fui, afinal, suas festas eram anuais. Em outras palavras, realmente não dava para perder. Deodoro era rico, é tudo o que vocês precisam saber. Isso permitia a ele dar uma festa absurdamente grande sem cobrar nada de ninguém. Muitas vezes cogitei a ideia dele secretamente espalhar câmeras pela mansão toda e gravar as festas. Depois ele venderia para algum site pornográfico, e era daí que vinha boa parte da grana. Ele bem que poderia ser um agente da indústria pornográfica, por que não? Eu acharia ótimo.

Cheguei um pouco tarde, então as pessoas não estavam mais tão comportadas. Muvuca, sexo, pegação, drogas. Foi um apanhado do que pude perceber em alguns minutos lá dentro. Tinha tanta gente que demorei a encontrar um conhecido. Mariano, um gordo louco pra caralho, mas gente boa. Trocamos uma ideia, ele me ofereceu um baseado, eu aceitei, ele deu um tapa na bunda de uma garota que passou de vestidinho curto, passou a mão na bunda de um cara que passou de sunga, jogou cerveja em um amigo já doido de trago e me disse dezenas de vezes que eu tinha a obrigação de comer uma bunda naquela noite. De fato, comi duas, fora a pegação. Mas o que mais me marcou na festa toda foi quando já meio bêbado entrei na casa em busca de um banheiro. Talvez por educação, uma vez que a maioria das pessoas, inclusive mulheres, mijava na grama. E o mais incrível de tudo é que ninguém mijava na piscina, tamanho era o respetio por Deodoro. E claro, também porque tinha um funcionário contratato especialmente para cuidar disso.

Entrara poucas vezes na casa, não conhecia muito bem. Caminhei de um lado para o outro, esbarrei em pessoas, móveis, passei por espaços apertados, desviei de corpos seminus, dei um pega em um baseado que me ofereceram, tropecei no tapete, senti que passaram a mão na minha bunda, ri de um sujeito todo vomitado fumando cigarro como se nada estivesse acontecendo, até finalmente encontrar a porra do banheiro. Em que mundo perfeito, em uma casa infestada de gente, ele estaria vago?

Só fechei a porta, sem trancar. Quando comecei a mijar e fechei os olhos para curtir o alívio, a porta abriu de novo com tanta violência que bateu na parede e voltou. Chapado e bêbado como eu estava, foi complicado compreender rapidamente o que acontecia. Era uma garota que precisava muito, muito, muito mijar, conforme suas palavras. “Lá na grama”, eu disse com o pau na mão e mijando. “Não dá tempo”, ela respondeu apertando uma perna na outra e já abrindo o zíper da calça. Quando vi a garota estava me empurrando para o lado sem nem se importar com o que eu estava fazendo. “Mija na banheira”, ela me disse ao sentar na privada. Mijei mais da metade no chão até me virar para acertar na banheira. Além da música alta vinda lá de fora, ouvi seus gemidos de alívio.

Quando terminei, virei-me de volta e lá estava ela, atirada na privada como se tivesse recém se injetado heroína. Eu não estava em uma igreja, então aproveitei para observá-la. Menor do que eu, pele branquinha, morena, seios grandes para o corpo pequeno, coxas bonitas, nem tão finas nem tão grossas, e ao me inclinar um pouco, pude notar belos pelos pubianos. Se já não tivesse trepado, sem dúvida ficaria excitado. Quando ainda estava inclinado e tentando ver sua buceta, ela abriu os olhos e me viu. Em um outro cenário qualquer, aquilo seria um abuso indefensável, digno de prisão por assédio. E eu concordaria planamente. Mas não, era a festa do Deodoro, onde era possível padres comerem freiras.

A garota não ficou surpresa, longe disso. Com um meio sorriso no rosto, abriu um pouco mais as pernas para que eu pudesse ver melhor. Apesar do cenário dispensar formalidades, fiquei assustado ao notar que ela estava me olhando e caminhei para trás, até ficar apoiado na pia. Não trocamos uma palavra sequer. Dois completos desconhecidos sozinhos no banheiro. Com movimentos lentos, ela baixo um pouco mais as calças e passou uma das mãos por sobre a buceta. Eu estava chapado demais para me excitar, mas não perdi a oportunidade de observar, maravilhado.

A garota foi subindo uma das mãos pelo corpo até chegar nos peitos. Apertou com firmeza um deles, depois abriu o zíper do casaco que vestia, baixou o sutiã e botou os peitos para fora. Eram lindos, bem redondinhos, mamilos rosinhas e levemente bicudos. Desejei muito tê-los em uma cama enquanto eu estivesse sóbrio. Confesso que não entendi o seu real objetivo, se era um convite para mim ou se ela queria apenas se masturbar para um desconhecido, pois em nenhum momento me chamou ou indicou que fosse tocar em mim.

Perdi a noção do tempo. Quanto ficamos lá, cinco minutos? Dez minutos? Uma hora? Sei que estávamos em transe. Eu de voyeur, ela dividia entre se mostrar e contemplar os próprios prazeres. Como a perfeição estava somente em encontrar um banheiro vazio em uma festa regada a putaria, fomos interrompidos. Uma outra garota que só tive tempo de ver que era loira e parecia bonita, meteu a cara na porta e acabou com a nossa estranha hipnose. “Finalmente te encontrei, porra! Vamos embora, seu namorado não para de me ligar. Vamos antes que eu atenda e diga que não estamos em uma convenção religiosa”.

Tipo, tudo normal. Nada demais em encontrar a amiga, que pelo visto tinha namorado, seminua no banheiro e se tocando para um completo desconhecido. Inclusive, aquela segunda garota sequer me dirigiu uma palavra, como se eu não estivesse lá. Como eu amava as festas do Deodoro.

“Que merda, não posso nem me divertir em paz”, baluciou a garota misteriosa que se tocava para mim. Pelo atropelo nas palavras, estava bêbada ou chapada. Ou as duas coisas, como eu. Com dificuldade e um pouco atrapalhada, ela subiu as calças, cambaleou um pouco ao se levantar e caminhou em direção à porta. Sua amiga a pegou pelo braço e apertou o passo. Foram embora e eu fiquei lá, sozinho, olhando para uma privada vazia e com água amarelada. “Pergunte o nome dela”, uma voz cochichou no fundo da minha mente, onde ainda restava um resquício de sobriedade. Saí do banheiro. Demorei tanto a tomar uma atitude e tinha tanta gente em volta que não encontrei as duas. E sua amiga devia tê-la pego pelo braço e saído voando de lá.

Enquanto eu catava em meio ao aglomerado de gente, um amigo me abordou perguntando o que eu estava fazendo. Foi nesse momento que surgiu a última chance de saber quem era a misteriosa garota. Avistei-a do outro lado da sala, saindo pela porta de vidro em direção ao pátio. Foram poucos segundos em que tive tempo de apontar e perguntar se ele sabia quem era.

– A loira? – Questionou-me. – Clara, gostosa demais.
– Não – reclamei, impaciente. – A morena.
– Ah – notei descaso em sua voz, pois visivelmente sua preferência era a tal da Clara. – Conheço de vista só, nunca nos falamos.
– Qual o nome dela?
– Marília.